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domingo, 6 de setembro de 2015

Vestibular UEL 2009



Leia o texto a seguir e responda à questão 1.

Texto I 

– Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, a fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objetos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objetos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objetos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldade e suporia que os objetos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam? 

(PLATÃO. A República. 7. ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993. p. 318-319.)




1. O texto é parte do livro VII da República, obra na qual Platão desenvolve o célebre Mito da Caverna. Sobre o Mito da Caverna, é correto afirmar.

I. A caverna iluminada pelo Sol, cuja luz se projeta dentro dela, corresponde ao mundo inteligível, o do conhecimento do verdadeiro ser. 

II. Explicita como Platão concebe e estrutura o conhecimento. 

III. Manifesta a forma como Platão pensa a política, na medida em que, ao voltar à caverna, aquele que contemplou o bem quer libertar da contemplação das sombras os antigos companheiros. 

IV. Apresenta uma concepção de conhecimento estruturada unicamente em fatores circunstanciais e relativistas. 

Assinale a alternativa correta. 

a) Somente as afirmativas I e IV são corretas. 
b) Somente as afirmativas II e III são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. 
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 
e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. 




2. Para Platão, no livro IV da República, a justiça, na cidade ideal,

Baseia-se no princípio em virtude do qual cada membro do organismo social deve cumprir, com a maior perfeição possível, a sua função própria. Tanto os ‘guardiões’ como os ‘governantes’ e os ‘industriais’ têm a sua missão estritamente delimitada, e se cada um destes três grupos se esforçar por fazer da melhor maneira possível o que lhes compete, o Estado resultante da cooperação destes elementos será o melhor Estado concebível. 

(JAEGER, W. Paidéia: a formação do homem grego. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 556.) 

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Platão, assinale a alternativa correta.

a) A cidade, de origem divina, encontra sua perfeição quando reina o amor verdadeiro entre os homens, base da concórdia total das classes sociais. 
b) A justiça, na cidade ideal, consiste na submissão de todas as classes ao governante que, pela tirania, promove a paz e o bem comum. 
c) A cidade se torna justa quando os indivíduos de classes inferiores, no cumprimento de suas funções, ascendem socialmente. 
d) A justiça, na cidade ideal, manifesta-se na igualdade de todos perante a lei e na cooperação de cada um no exercício de sua função.
e) Na cidade ideal, a justiça se constitui na posse do que pertence a cada um e na execução do que lhe compete.




3. Com base nos conhecimentos sobre o pensamento político de Aristóteles, é correto afimar.

a) A reflexão aristotélica estabelece uma clara separação entre política e ética, uma vez que a parte (vida individual) não pode se confundir com o todo (comunidade política). 
b) A lei, para Aristóteles, como expressão política da ordem natural e, portanto, intimamente ligada à justiça, é o princípio que rege a ação dos homens na pólis. 
c) Aristóteles sustenta que cada homem, por sua liberdade natural, sempre age tendo em vista algo que lhe parece ser um bem, alcançando sua perfeição pela satisfação de suas paixões e necessidades individuais. 
d) O conceito de felicidade a que, segundo Aristóteles, visa individualmente a ação humana, está desvinculado do conceito de justiça como um exercício político orientado ao bem comum. 
e) Na concepção política de Aristóteles, torna-se evidente que a idéia de bom governo, de regime justo e de cidade boa depende da tripartição dos poderes.
Leia atentamente o texto a seguir e responda à questão 4.
Texto II 
A palavra que empregamos como ´Estado’ não significa outra coisa que ´cidade’. Apesar de Aristóteles ter vivido até ao fim da idade de ouro da vida da cidade grega e ter estado em íntimo contato com Filipe e Alexandre, foi na cidade e não no império que ele viu, não apenas a forma mais elevada de vida política conveniente à sua época, mas também a forma mais elevada que era capaz de conceber. Todo agregado mais vasto constituía para si uma mera tribo ou um emaranhado de pessoas sem homogeneidade. Nenhum império impondo a sua civilização aos povos mais atrasados, nem uma nação constituída em Estado, estavam ao alcance da sua visão. 
(ROSS, D. Aristóteles. Lisboa: Dom Quixote. 1987. p. 243.)


4. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento político de Aristóteles, considere as afirmativas a seguir.
I. A forma de vida mais adequada para o cidadão é aquela na qual todos os habitantes da cidade, indistintamente, participam da vida política, governando e sendo governados. 
II. O Estado nasce com o objetivo de proporcionar a vida boa, compreendida como estando vinculada às questões morais e intelectuais. 
III. Assim como outros autores da tradição, também Aristóteles pensa a origem do Estado como um ato de mera convenção sem vínculos com a natureza humana. 
IV. Na teorização que Aristóteles faz sobre o Estado, está presente a família, como, por exemplo, na tese de que o “Estado deriva da família”. 
Assinale a alternativa correta.
 
a) Somente as afirmativas I e III são corretas. 
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. 
c) Somente as afirmativas II e IV são corretas. 
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

Leia o seguinte texto de Maquiavel e responda à questão 5.
Texto III 
[...] como é meu intento escrever coisa útil para os que se interessarem, pareceu-me mais conveniente procurar a verdade pelo efeito das coisas, do que pelo que delas se possa imaginar. E muita gente imaginou repúblicas e principados que nunca se viram nem jamais foram reconhecidos como verdadeiros. Vai tanta diferença entre o como se vive e o modo por que se deveria viver, que quem se preocupar com o que se deveria fazer em vez do que se faz aprende antes a ruína própria, do que o modo de se preservar; e um homem que quiser fazer profissão de bondade é natural que se arruíne entre tantos que são maus. Assim, é necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso segundo a necessidade.
(MAQUIAVEL, N. O Príncipe. cap. XV. Coleção “Os pensadores”. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 69.)

5. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Maquiavel acerca da relação entre poder e moral, é correto afirmar.

a) Maquiavel se preocupa em analisar a ação política considerando tão-somente as qualidades morais do Príncipe que determinam a ordem objetiva do Estado.
b) O sentido da ação política, segundo Maquiavel, tem por fundamento originário e, portanto, anterior, a ordem divina, refletida na harmonia da Cidade.
c) Para Maquiavel, a busca da ordem e da harmonia, em face do desequilíbrio e do caos, só se realiza com a conquista da justiça e do bem comum.
d) Na reflexão política de Maquiavel, o fim que deve orientar as ações de um Príncipe é a ordem e a manutenção do poder.
e) A análise de Maquiavel, com base nos valores espirituais superiores aos políticos, repudia como ilegítimo o emprego da força coercitiva do Estado.

Leia o seguinte texto de Hobbes e responda à questão 6.
Texto IV 
A maior parte daqueles que escreveram alguma coisa a propósito das repúblicas o supõe, ou nos pede ou requer que acreditemos que o homem é uma criatura que nasce apta para a sociedade. Os gregos chamam-no zoon politikon; e sobre este alicerce eles erigem a doutrina da sociedade civil [...] aqueles que perscrutarem com maior precisão as causas pelas quais os homens se reúnem, e se deleitam uns na companhia dos outros, facilmente hão de notar que isto não acontece porque naturalmente não poderia suceder de outro modo, mas por acidente.
[...]
Toda associação [...] ou é para o ganho ou para a glória – isto é, não tanto para o amor de nossos próximos, quanto pelo amor de nós mesmos. [...] se fosse removido todo o medo, a natureza humana tenderia com muito mais avidez à dominação do que construir uma sociedade. Devemos, portanto, concluir que a origem de todas as grandes e duradouras sociedades não provém da boa vontade recíproca que os homens tivessem uns para com os outros, mas do medo recíproco que uns tinham dos outros.
(HOBBES, T. Do Cidadão. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 28-29; 31-32.)


6.Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento político hobbesiano, é correto afirmar.


a) Hobbes reafirma o postulado aristotélico de que os homens tendem naturalmente à vida em sociedade, mas que, obcecados pelas paixões, decaíram num estado generalizado de guerra de todos contra todos.
b) O estado de guerra generalizada entre os homens emerge, segundo Hobbes, da desigualdade promovida pela lei civil e pelo desejo de poder de uns sobre os outros.
c) A idéia de que o estado de guerra generalizada ocorre com o desaparecimento do estado de natureza, onde todos os homens vivem em harmonia, constitui o fundamento da teoria política de Hobbes.
d) Segundo Hobbes, para restaurar a paz que existia no estado de natureza, os homens sujeitam-se, pelo pacto, a um único soberano para subtrair-se ao medo da morte e, por sua vez, garantir a autopreservação.
e) Segundo Hobbes, à propensão natural dos homens a se ferirem uns aos outros se soma o direito de todos a tudo, resultando, pela igualdade natural, em uma guerra perpétua de todos contra todos.

Leia o seguinte texto de Rousseau e responda à questão 7. 
Texto V 
O princípio de toda ação está na vontade de um ser livre, não poderíamos remontar além disso. [...] não há verdadeira vontade sem liberdade. O homem, portanto, é livre em suas ações [...]. Se o homem é ativo e livre, ele age por si mesmo. Tudo o que faz livremente não entra no sistema ordenado da Providência e não lhe pode ser imputado. 
[...]
A consciência é a voz da alma, as paixões são a voz do corpo. [...] [A consciência] é o verdadeiro guia do homem; ela está para a alma assim como o instinto está para o corpo: quem a segue obedece à natureza e não tem medo de se perder. [...] Existe, pois, no fundo das almas um princípio inato de justiça e de virtude a partir do qual, apesar de nossas próprias máximas, julgamos nossas ações e as de outrem como boas ou más, e é a esse princípio que dou o nome de consciência. 
(ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 396; 405; 409.) 
SEAU, J. J. Emílio ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 396; 405; 409.) 

7. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento moral de Jean-Jacques Rousseau, é correto afirmar.
 
a) Rousseau reafirma que o fundamento objetivo dos juízos morais está em Deus, que ilumina a consciência humana e nela inspira o “princípio inato de justiça e de virtude”. 
b) Herdeiro do pensamento de Platão, Rousseau defende que a prática do bem coincide com a busca interminável do conhecimento da verdade e da justiça. 
c) Rousseau reafirma que, por meio da consciência, o ser humano é movido pela busca da felicidade, alcançada pela reflexão e pelo desprezo dos desejos e das paixões. 
d) Rousseau rejeita que o fundamento da moral seja a conformidade com a lei divina, afirmando a crença na objetividade de uma lei natural, anterior a qualquer lei positiva. 
e) Rousseau recusa aceitar a existência de noções morais anteriores à experiência humana e defende que o ser humano é naturalmente movido pela busca do prazer. 

Leia o seguinte texto de Francis Bacon e responda à questão 8.
Texto VI 
[...] é necessário, ainda, introduzir-se um método completamente novo, uma ordem diferente e um novo processo, para continuar e promover a experiência. Pois a experiência vaga, deixada a si mesma [...] é um mero tateio, e presta-se mais a confundir os homens que a informá-los. Mas quando a experiência proceder de acordo com leis seguras e de forma gradual e constante, poder-se-á esperar algo de melhor da ciência.
[...]
A infeliz situação em que se encontra a ciência humana transparece até nas manifestações do vulgo. Afirma-se corretamente que o verdadeiro saber é o saber pelas causas. E, não indevidamente, estabelecemse quatro coisas: a matéria, a forma, a causa eficiente, a causa final. Destas, a causa final longe está de fazer avançar as ciências, pois na verdade as corrompe; mas pode ser de interesse para as ações humanas.
(BACON, F. Novo Organum ou verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza. São Paulo: Abril Cultural. 1973. p. 72; 99-100.)


8. Com base no texto e no pensamento de Francis Bacon acerca da verdadeira indução experimental como interpretação da natureza, é correto afirmar.


a) Na busca do conhecimento, não se podem encontrar verdades indubitáveis, sem submeter as hipóteses ao crivo da experimentação e da observação.
b) A formulação do novo método científico exige submeter a experiência e a razão ao princípio de autoridade para a conquista do conhecimento.
c) O desacordo entre a experiência e a razão, prevalecendo esta sobre aquela, constitui o fundamento para o novo método científico.
d) Bacon admite o finalismo no processo natural, por considerar necessário ao método perguntar para que as coisas são e como são.
e) O estabelecimento de um método experimental, baseado na observação e na medida, aprimora o método escolástico

9. Para Aristóteles, 
Só julgamos que temos conhecimento de uma coisa quando conhecemos sua causa. E há quatro tipos de causa: a essência, as condições determinantes, a causa eficiente desencadeadora do processo e a causa final. 
(ARISTÓTELES. Analíticos Posteriores. Livro II. Bauru: Edipro. 2005. p. 327.) 
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a metafísica aristotélica, é correto afirmar. 
a) A existência de um plano superior constituído das idéias e atingido apenas pelo intelecto permite a Aristóteles a compreensão objetiva dos fenômenos que ocorrem no mundo físico. 
b) A realidade, para Aristóteles, sendo constituída por seres singulares, concretos e mutáveis, pode ser conhecida indutivamente pela observação e pela experimentação. 
c) Para a compreensão das transformações e da mutabilidade dos seres, Aristóteles recorre ao princípio da criação divina. 
d) Na metafísica aristotélica, a compreensão do devir de todas as coisas está vinculada à determinação da causa material e da causa formal sobre a causa final.
e) Para Aristóteles, todas as coisas tendem naturalmente para um fim (telos), sendo esta concepção teleológica da realidade a que explica a natureza de todos os seres.

Leia o seguinte texto de Descartes e responda à questão 10.
Texto VII
De há muito observara que, quanto aos costumes, é necessário às vezes seguir opiniões, que sabemos serem muito incertas, tal como se fossem indubitáveis [...]; mas, por desejar então ocupar-me somente com a pesquisa da verdade, pensei que era necessário agir exatamente ao contrário, e rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se, após isso, não restaria algo em meu crédito, que fosse inteiramente indubitável [...] E, tendo notado que nada há no eu penso, logo existo, que me assegure de que digo a verdade, exceto que vejo muito claramente que, para pensar, é preciso existir, julguei poder tomar como regra geral que as coisas que concebemos mui clara e mui distintamente são todas verdadeiras [...].
(DESCARTES, R. Discurso do Método. Quinta Parte. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 46-47.)

10.Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Descartes, é correto afirmar. 

a) A dúvida metódica permitiu a Descartes compreender que todas as idéias verdadeiras procedem, mediata ou imediatamente, das impressões de nossos sentidos e pela experiência.
b) A clareza e a distinção das idéias verdadeiras representam apenas uma certeza subjetiva, além da qual, apesar da radicalização da dúvida metódica, não se consegue fundamentar a objetividade da certeza científica.
c) Somente com o cogito, a concepção cartesiana das idéias claras e distintas, inatas ao espírito humano, garante definitivamente que o objeto pensado pelo sujeito é determinado pela realidade fora do pensamento.
d) Do exercício da dúvida metódica, no itinerário cartesiano, a certeza subjetiva do cogito constitui a primeira verdade inabalável e, portanto, modelo das idéias claras e distintas.
e) A dúvida cartesiana, convertida em método, rende-se ao ceticismo e demonstra a impossibilidade de qualquer certeza consistente e definitiva quanto à capacidade do intelecto de atingir a verdade.

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